A Era da Inovação Consciente:
um paradigma emergente

08 de dezembro de 2023

Artigo publicado originalmente no livro Sucessão e
Transformação da Família Empresária (FIESC, 2023)

Luiza Gaidzinski Carneiro é jornalista, embaixadora do Capitalismo Consciente
e sócia no Arquipélago - Ecossistema de Projetos

Chegou a hora de recalcular a rota. Novembro de 2022 ficou marcado pela contagem de 8 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra e, estudos indicam, que em 2080 teremos um novo número: 10,43 bilhões. Evoluímos muito bem como humanidade até aqui, coordenados por diferentes políticas, padrões e pelo atual sistema econômico, o capitalismo. No entanto, nossos legados negativos são profundos. A sociedade atual carrega um leque de diversas crises, como a da saúde mental, do desemprego, da poluição, e, consequentemente, das mudanças climáticas.

Por isso, provoca-se repensar o destino. Reavaliar a forma como vivemos e nos relacionamos e, principalmente, como criamos novos artefatos para um novo mundo. O economista e ambientalista chileno Manfred Max-Neef afirmava que “vivemos em um período de transição que significa que mudanças de paradigma não são apenas necessárias, mas indispensáveis". A partir disso, entende-se que um novo ciclo de inovação se consolida: a Era da Inovação Consciente. Mais do que produzir mais e exponencialmente, tornar-se de fato co-responsável pelo o que é concebido. Por isso, a mudança significativa dos modelos atuais e futuros se dá a partir do entendimento do impacto direto na forma como projetamos nossos negócios, produtos, serviços, experiências e, acima de tudo, nossas relações.

Quando nos colocamos como designers do futuro - e entenda aqui a palavra design como criadora de algo, e não simplesmente um título profissional - trabalhamos sobretudo a conscientização. A importância de entender o que está em jogo aqui e agora. Em seu livro de 1980, "The Global Brain", o futurista britânico Peter Russell previu que a “Era da Consciência” chegaria em algum momento entre 2010 e 2020. Previsão, de certa forma, confirmada, embora talvez pressionada pela pandemia e pelo sistema financeiro. Neste novo contexto, portanto, somos todos designers - diretamente responsáveis pelo o que colocamos no mundo.

A partir desse novo paradigma, "temer as consequências do trabalho mais do que amar a esperteza das ideias" (Mike Monteiro) se torna regra. Colocar as pessoas e a natureza no centro dos processos. Repensar os limites do lucro e as fontes de riqueza - humana, social, ecológica, cultural, física - co-criando um sistema de bem-estar social, que transforme a concepção econômica para uma métrica que monitore a vida. A simples métrica monetária (receita financeira) não conseguirá refletir em sua totalidade o valor que uma nova economia deve gerar.

A palavra economia deriva do grego oikonomía. Oikos é casa, moradia; e nomos administração, organização. Onde se perdeu o real significado da economia? Como estamos fazendo a gestão da nossa casa e qual legado, de fato, estamos criando? O resultado econômico e financeiro é decorrente de um processo de transformação sistêmica e social. Deve-se enfatizar, então, as relações que transcendem as paredes da organização. O amadurecimento do negócio se dá junto ao entendimento de que a performance melhora quanto mais se qualificam as relações.